domingo, 29 de maio de 2011

Os personagens do Sopa de Letrinhas do Clube Caiubi de Compositores, no bar Bagaça!, do Vlado Lima, ali na Lapa, merecem um catálogo. Com foto e ficha. Cada figura! Não escapa um que não seja de alguma forma inusitado. Em breve, aqui, fotos!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Pôr-do-Sol da Praça

Sentados nos degraus da Praça, como em um anfiteatro, eles assistem a um espetáculo na Zona Oeste de São Paulo - e aplaudem no final




O casal de namorados Julio Gama e Fabiana Mendes, de mãos dadas, espera o início do espetáculo. A babá Joane dos Santos ajeita o bebê no carrinho. Junto a eles estão sentadas cerca de 30 pessoas. Todas em silêncio. Todos olhando para o mesmo lado.

O que aguardam é o pôr-do-sol, que, neste domingo, começou às 17h31. Pôr-se-sol é coisa que acontece todos os dias, em todo o planeta, mas em alguns lugares se torna atração, como uma performance do céu.

Durante alguns minutos, devagar, o círculo vermelho-intenso desce em direção ao horizonte, até desaparecer entre as montanhas, além da Cidade Universitária. Visto da praça, o céu tomou tons de rosa, laranja e lilás. Todos aplaudem.

Joane garante que nem se importa de trabalhar aos domingos, se o dia está bonito e pode ir para a praça encontrar as amigas e ver esse espetáculo. Fabiana diz a Júlio que entende o Pequeno Príncipe, que morava em um planeta pequeno e via vários pores-de-sol quando ficava triste, apenas mudando a cadeira um pouco para trás: “Se eu pudesse, faria a mesma coisa”. Ela acha melhor que cinema.

A maioria dos presentes concorda. “O pôr-de-sol de São Paulo é o mais bonito do mundo”, declara Júlio. Mas a dona de casa Aurelina de Jesus acha que o mais bonito é o de Laranjal Paulista, enquanto o vendedor de cachorro-quente Gualberto Silva afirma que em Brasília é que se vê o melhor pôr-de-sol, “uma bola completamente amarela, com o céu bem azul”. Outros respondem a ele que a graça do pôr-de-sol de São Paulo é justamente ser tão colorido.

Na Escola Municipal de Astrofísica, no Parque do Ibirapuera, o professor José Carlos Barsotti Júnior explica que é a poluição que dá ao céu de São Paulo esse colorido, no momento em que o sol se encontra próximo ao horizonte, pela incidência dos raios de luz sobre as partículas em suspensão no ar.

Pode ser. Até a poluição tem seu lado bom.

Aos poucos os espectadores na praça erguem-se, espreguiçam-se, começam a ir embora. Até o próximo pôr-de-sol!

(B.V.)

Serviço:A Praça do Pôr-do-Sol fica na confluência dos bairros do Alto dos Pinheiros, do Sumaré e do Alto da Lapa. Sua localização, em aclive, num plano mais alto que as residências que se espalham por vários quarteirões, em frente, permite uma visão praticamente 'de camarote' do espetáculo diário, atraindo moradores de outros bairros e também turistas.

O arquiteto Marcelo Rosembaum projetou para a praça um mirante em concreto, com janelas em forma de coração e grandes pufes para os namorados. Por enquanto, a prefeitura não tem planos de tornar realidade esse projeto.

(matéria publicada no jornal da FIAM, em maio de 2005. Lembrei dela ao ler, hoje, a crônica do Matthew Shirts falando no pôr-do-sol do Arpoador, no Rio)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Resgate



Esta cidade que pertence aos carros,
será possível amá-la ainda, amá-la
como quem ama a um filho que se desviou,
a uma querida irmã extraviada?

Minha cidade mãe desnorteada,
que parece ter perdido o seu sudeste:
que pólo magnético é este,
que a faz tão atraente
para tanta gente?

Minha querida desorientada!

Minha cidade norte e oriente,
que bandeirantes tão intimidados
não te reconquistamos,
não tomamos posse,
não vimos desbravar-te?

Minha cidade enchente;
vêm de toda parte
os que te entopem as veias,
que te invadem
sem te amar;
os que te bebem,
te devoram,
que destroem tua arte,
os que te exaurem, jurando
não poder suportar-te
nem mais um dia: precisam
fugir de ti, minha amada.

E vão-se, os bárbaros, a cada
pequena oportunidade.

Escoam-se pelas estradas,
estrangulam-nas,
mas temporariamente partem,
os não-amantes da cidade.

É quando quem te ama,
teus filhos e imigrantes,
pode reencontrar-te
como antes:
tuas lânguidas ruas,
teus bosques suaves,
teus prédios antigos,
tua maravilhosa nova arquitetura.

E assim te sei, Cidade,
ainda a mãe mais pura

apesar de tudo que te invade