terça-feira, 9 de junho de 2009

Convite para o lançamento de Triângulos

PASSEIO À BEIRA-MAR

O japonês, cercado por três garotas, disse:

– O problema com as mulheres...

Fez uma pausa de efeito – ou talvez fosse uma hesitação legítima, talvez estivesse organizando os pensamentos.

Eu, que vinha pela areia em passos lentos, aproveitando a visão das ondas, comecei a andar ainda mais devagar. Queria ouvir qual é, afinal, o nosso problema.

Um parênteses: por que chamamos 'japonês' a alguém que deve ser brasileiro há quatro ou cinco gerações? Ninguém diz 'o nigeriano', 'o francês', quando fala dos filhos desses brancos ou negros... muito menos dos bisnetos!

As três meninas também aguardavam o final da sentença. Uma delas tinha olhos puxados e longos cabelos lisos e negros. As outras duas, muito bronzeadas, de olhos claros, talvez tenham tido algum dia cabelos escuros. Agora eram cor-de-mel, com mechas loiras, aquilo a que chamam ‘luzes’.

– O problema é que as mulheres deveriam acreditar mais no que os homens dizem –, declarou o rapaz.

Eu, quase saindo do raio de alcance das vozes, gritei-lhes:

– E vice-versa!

As meninas semi-loiras gargalharam, a de traços orientais jogou de longe um “muito obrigada!” risonho. O rapaz concedeu:

– Concordo.

Será mesmo? Nosso único problema é que um lado da humanidade não escuta o outro? Continuei passando, uma ouvinte que enterra os pés na areia, aproveitando cada passo com os olhos no mar. Mas é impossível não ouvir os sons que o vento traz.

Um pouco adiante de mim, três rapazes caminhavam lado a lado, implicando uns com os outros num tom entre bem-humorado e agressivo. O magro dizia que os dois amigos precisavam emagrecer. O quase gordo e o muito gordo ridicularizavam os braços do magro. E ele, com um tapa na pança do mais barrigudo:

– Claro, você é super-másculo, né?

E murmurou consigo mesmo:

– Cara horrível, meu...!

Enquanto os ultrapassava, interferi:

– Masculinidade e beleza não são necessariamente interligados.

O gordo:

– Obrigado pela defesa. Se é que foi defesa.

– Claro que foi!

E a intrometida seguiu seu caminho, andando muito devagar, mas mais rápido que os três amigos brigantes.

Fiquei pensando: por que será que quando se diz ‘másculo’ entende-se obrigatoriamente ‘sarado’? Aposto meus feijões mágicos como o nível de testosterona tem pouco a ver com a quantidade de músculos.

Se é questão de gosto, eu, por exemplo, não sou fã do tipo ‘saradinho’. Um homem deve ter cara de sábio, longas mãos sensíveis e hábeis, olhar sonhador. Ombros largos e a força natural de todo macho, não aumentada à custa de halteres, mas mantida com eventuais braçadas na água. E a voz grave de quem sabe coisas que nunca imaginei.

O.k.: isto sou eu. Outras adoram os malhados, suponho. Mas já vi uma menina linda dizer às amigas: “Eu gosto de gordinhos.” E instantaneamente ficou rubra com a confissão, totalmente sem graça enquanto as outras riam e ela cobria os olhos com as mãos.

Hm. São insondáveis os caminhos da atração física.